(Página Principal) Página Principal "A EMPRESA TREINA, MAS NA PRÁTICA É OUTRA COISA": CARGA DE TRABALHO DO FRENTISTA E A ROTATIVIDADE NA FUNÇÃO DE FRENTISTA Odaléa Novais Freire Mário César Ferreira Laboratório de Ergonomia do Instituto de Psicologia Universidade de Brasília Campus Universitário Darci Ribeiro ICC Ala Sul Brasília - DF, CEP 70.910-000 Fone: (061) 307 26 25 r 207 Fax 347 77 46 odaléa@unb.br mcesar@unb.br Palavras-chave: carga de trabalho, rotatividade de pessoal e ergonomia O contexto sócio-organizacional onde o trabalho é exercido, constitui um micro-espaço social do exercício da cidadania. Tal contexto deve ser lugar de respeito às características dos sujeitos, de suas necessidades e de seus projetos. As relações sociais de trabalho que se configuram, sobretudo, em função da natureza, das condições e das práticas de trabalho existentes, devem facilitar a construção do savoir-faire do trabalhador e a expressão de sua subjetividade. A partir do cenário de fundo acima, o objetivo central desse trabalho é evidenciar um estudo de caso em ergonomia, onde a lógica de funcionamento organizacional de uma rede de postos de abastecimento está na origem da rotatividade dos funcionários que trabalham na função de "frentista". Busca- se argumentar o caráter "esquizo" que estrutura tal lógica organizacional economicista, e como a discrepância entre o "trabalho prescrito" e o "trabalho real" dos sujeitos, que lhe é subjacente, impõe condições de trabalho que comprometem o bem-estar dos frentistas, sua eficiência e eficácia. Partindo-se de um estudo realizado pela empresa com 52 funcionários, a presente pesquisa baseada na "Análise Ergonômica do Trabalho -AET" de matriz francofônica (Guérin et al., 1997). Participaram todos os frentistas (N=8) de um "posto de gasolina" de uma rede distribuidora no Distrito Federal e parte da clientela (N=30). A coleta dos dados consistiu na análise documental, na observação do processo de trabalho e na realização de entrevistas semi-estruturadas individuais. Duas dimensões analíticas complementares orientaram o tratamento dos dados: quantitativa - análises estatísticas descritivas; qualitativa - descrição dos fluxos da atividade e do processo de trabalho; análise de conteúdo das entrevistas. A análise dos dados permitiu construir um cenário explicativo da situação-problema investigada. Contrariamente aos argumentos de que a rotatividade sistemática na empresa deve-se ao não atendimento das expectativas profissionais prescritas pela instituição e da inadaptabilidade dos funcionários à função, os resultados mostram que tal rotatividade resulta, sobretudo, de um trabalho prescrito centrado na perspectiva lucrativa que desconsidera as características e as necessidades dos sujeitos e, principalmente, é pouco compatível com as exigências físicas, cognitivas e psíquicas da carga de trabalho e os limites dos sujeitos. Os dados empíricos contrariam o senso comum de que o trabalho de frentista é simples e fácil. Na situação estudada, ele caracteriza-se, principalmente, por uma carga cognitiva expressiva para responder adequadamente aos imperativos das tarefas. Não obstante os limites dessa pesquisa exploratória, cuja generalização dos resultados exige cautela, suscita-se elementos empíricos para novas investigações e ilustra, com o caso, como um contexto sócio-organizacional de natureza tecnocêntrica impõe limites para um funcionamento satisfatório da empresa.